Psicopedagogia


A INSERÇÃO DO SUJEITO NÃO ALFABETIZADO
NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: uma contribuição da Psicopedagogia[1]

Adma Soares de Souza Padilha[2]
Cidália Pereira de Souza[3]
Delza Maria Rodrigues da Silva[4]
Marcos Roberto Gomes[5]
Nadir Soares de Sousa Silva[6]
Palmira Roberta Félix[7]

                                  “A mais nobre missão do ser humano é prestar ajuda aos seus semelhantes por todos os meios ao seu alcance.”

Sófocles

RESUMO: Este artigo tem como objetivo mostrar a realidade de muitas crianças, regularmente matriculadas nas escolas municipais e estaduais, contudo não estão inseridas no processo ensino-aprendizagem e sofrem com o descaso de alguns profissionais que atuam na sala de aula; às vezes por desconhecer métodos, meios, enfim os caminhos que conseguiriam solucionar o problema ou simplesmente porque não se interessam pelos problemas “paralelos” que surgem nas salas de aula. Para exemplificar essa situação fez-se um estudo de caso para constatação do descaso que determinadas crianças sofrem, não só na escola, também no seio da família.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. Família. Escola. Ensino-aprendizagem.

SUMMARY: This article has as objective shows the a lot of children's reality, regularly enrolled in the municipal and state schools, however they are not inserted in the process teaching-learning and they suffer with the negligence of some professionals that act in the class room; sometimes for ignoring methods, means, finally the roads that would get to solve the problem or simply because they are not interested in the parallel " problems " that appear in the class rooms. To exemplify that situation it was made a case study for verification of the negligence that certain children suffer, not only in the school, also in the breast of the family. 

WORD-KEY: Literacy. Family. School. Teaching-learning.

INTRODUÇÃO


             Neste artigo propõe-se uma reflexão sobre a prática pedagógica, hoje vivenciada por profissionais que atuam há muito tempo e àqueles que estão ingressando na profissão. Espera-se que o professor, como diz Mirian Lemle (2005, p. 62) “espero que os professores adquiram estima pelo saber do aprendiz, alguma confiança no próprio preparo profissional e o desejo de ensinar a partir de uma posição de aliados dos alunos.” Necessário se faz que haja um comprometimento maior com a educação.
              Segundo a concepção Walloniana, relatada por Coutinho (1992 ) “o desenvolvimento infantil se dá pela emoção, pois ele é um ser emocional, desde o nascimento somos movidos pelo prazer. É fundamental que a escola seja capaz de educar para a vida, felicidade.” Assim, esse artigo, mostra a necessidade do profissional ter uma visão mais humana voltada para o aprendiz, que fica claro no relato sobre a alfabetização; também relata na história da psicopedagogia que ela é ferramenta importante no desenvolvimento do sujeito.
              Portanto, segundo Vygostsky (1987) diz “com auxílio externo, todas as crianças podem fazer mais que conseguiriam por si sós.” Desse modo a aprendizagem e o desenvolvimento se dão na troca de experiência e cooperação, ingredientes essenciais para o alfabetizador que quer ter sucesso na sua prática pedagógica, valorizando e respeitando o aprendiz nas suas potencialidades.


HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA: uma discussão necessária na atualidade
   
A historia sobre a psicopedagogia,  aparece   inicialmente na Europa/França no século XIX, por Françoise Dolto, Julian Ajuria guerra, Pichon-Riviére, Pierre Vayer, Louise Picg e outros.  A psicopedagogia logo no seu surgimento já possuía um caráter interdisciplinar. Pois, já baseava seus estudos, tendo como colaboradores diversos campos do conhecimento, inicialmente foram; Psicologia, Psicanálise e Pedagogia.
A psicologia pode ser considerada como o estudo da alma, do comportamento, do psiquismo. Psicanálise é a ciência que estuda o inconsciente que foi estabelecida por Sigmund Freud (1856-1939). É uma prática de investigação, que incide principalmente em demonstrar o significado inconsciente das ações, palavras, ou até mesmo de produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. E a Pedagogia tem como objetivo a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica do processo educativo.
Psicopedagogia então é a consequência da junção de diversos campos de conhecimento, e tem como proposta descobrir e/ou compreender os processos de aprendizagem do sujeito as causas dos vários tipos de distúrbios de comportamentos e dificuldades  ligados a aprendizagem.
              A história da psicopedagogia remete-nos à Europa do século XIX. Segundo Bossa (2000) nasceu da necessidade de contribuir na busca de soluções para a difícil questão do problema da aprendizagem e de sua complexibilidade. As primeiras iniciativas para atender crianças com dificuldade de aprendizagem se deram na França, onde o atendimento era feito por profissionais da medicina, psicologia, psicanálise e pedagogia. Esse atendimento alcança sucesso e se espalha por diferentes países.
              Na Argentina a psicopedagogia se torna uma atividade bastante popular e é desenvolvida em toda rede publica de ensino. No Brasil surgiu por influência da Argentina devido à proximidade geográfica e a presença de psicopedagogos ministrando cursos em nosso país. Por volta de 1970 surgem os primeiros cursos e experiências psicopedagógicas no Brasil.
              Como visto a psicopedagogia, surgiu na Argentina há mais de cinquenta anos, em Buenos Aires e, acredita-se ter sido influenciado pela Europa.  No Brasil de acordo com Bossa (1994), o caminho da Psicopedagogia no Brasil é árduo para que se possa realiza seu papel os profissionais necessitam ser multi especialista em aprendizagem humana é necessário ter uma gama de conhecimentos, para realização das atividades, com o intuito de descobrir causas dos diversos problemas e dificuldades de aprendizagem numa tentativa de sanar os problemas de aprendizagem. O psicopedagogo não atua apenas em instituições escolares, pode ser visto também na dimensão hospitalar e empresarial mas é na escola que a psicopedagogia tem seu maior enfoque, sendo o aluno seu foco principal.
            A psicopedagogia no Brasil busca aprimorar seus conhecimentos e para melhor entender os diferentes fenômenos que envolvem dificuldades de aprendizagem, houve a necessidade de unir-se a outros campos do conhecimento, a Psicanálise, a Filosofia, a  Psicologia Transpessoal,  a Neurologia, entre outros.
            Vale a pena ressaltar que a psicopedagogia  atua como forma de prevenção, de desenvolvimento e ou maneira terapêutica. Seguindo sua linha de raciocínio o fracasso escolar pode estar coligado a problemas de desenvolvimento cognitivo, conduta e comportamento, , afetivo, emocional, orgânico e motor. Para a psicopedagogia, toda criança aprende, se for utilizado diversas áreas dos conhecimentos, métodos, praticas, teorias visando o desenvolvimento por completo do sujeito.
Nesse sentido, faz-se necessário saber como o sujeito aprende, como se dá a aprendizagem, quais são seus caminhos seus percursos, essas informações cabe ao psicopedagogo conhecê-las, pois nas atuações esses conhecimentos serão necessários. Portanto, outros conhecimentos assim como, novos métodos, novas teorias, novas descobertas que possam surgir, cabe também a psicopedagogia  conhece-los, pois quando sua   atuação for para   discutir com o corpo docente, coordenação e direção da escola,  propostas que mostrem  novos caminhos métodos e praticas pedagógicas que  contribuam  para uma melhor assimilação do conteúdo, da participação e do desenvolvimento do sujeito, ou ainda, para que ocorra uma melhor convivência entre todos os atores que compõem a escola.
              A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) foi criada na década de 80 com sede em São Paulo; conta com treze sessões em diferentes Estados do Brasil e dez núcleos regionais. O maior desafio da Psicopedagogia no Brasil é concluir o processo de regulamentação da profissão e ampliação do seu espaço de atendimento.
De acordo com o código de ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) no seu Artigo 6º, são deveres fundamentais do Psicopedagogo: manter-se atualizado, zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado, colaborar com o progresso da Psicopedagogia; difundir seus conhecimentos e prestar serviços gerais; responsabilizar-se pelas avaliações feitas, reservar a identidade do sujeito pelo sigilo e outras.
              O psicopedagogo é um profissional capacitado para realizar sua atuação junto à aprendizagem humana, considerando em sua ação e se utilizando de todos os mecanismos dentro desse processo; dentro dos “problemas” de aprendizagem sua atuação vai além destas questões e dirige-se para três vertentes: Psicopedagogia Clínica ou curativa, Preventiva e da Pesquisa Científica.
              A primeira tem como objetivo devolver ao sujeito com dificuldades, desejos e as possibilidades de aprender; a segunda seu objetivo é o aperfeiçoamento das práticas educativas, facilitando o processo de aprendizagem, diminuindo ou evitando seus problemas; terceiro é que através da pesquisa o psicopedagogo estará contribuindo para o fortalecimento da psicopedagogia e aperfeiçoamento do trabalho, junto às crianças e aos jovens brasileiros.
Outra característica da psicopedagogia é a de contribuir mesmo sem mostrar ou deixar claro  que essa seja sua função, mas na sua  performance parece tentar contribuir para que a concretização dos quatro pilares da educação aconteça, pois,  procura fazer com  que o sujeito; aprenda a ser, a conhecer, a fazer e a conviver.  Percebe-se, a complexidade do conhecimento que o psicopedagogo precisa ter nas suas atuações. Para Paín (1992, p.7), “o tratamento Psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se um transtorno   de aprendizagem”. Talvez, pelo motivo de a psicopedagogia envolver conhecimentos epistemológicos que Paín a indica para resolução destes casos, talvez acreditando que esta terá menos chance de erro nos  seus diagnósticos.
Por outro lado, existem casos de dificuldades de aprendizagem que não se resolve somente na escola em conversas ou explicações para diretores, coordenadores e professores, existem problemas que levam mais tempo, para se chegar a diagnósticos  mais precisos.  Para tal, necessário se faz realizar-se sessões psicopedagógicas.
Estas sessões normalmente, ou preferencialmente precisam  acontecer em  clínicas destinadas para esse fim. Esta é outra área que o psicopedagogo atua. Por meio de pesquisas sobre a vida do sujeito por completo, levando em consideração o meio e quaisquer outras circunstância que podem influenciar no processo de aprendizagem do sujeito. Por meio, das informações adquiridas é possível chegar-se a um diagnóstico e a partir daí encontrar meios para tentar resolver tal dificuldade. Pelo olhar da psicopedagogia, o meio influencia no desenvolvimento do indivíduo, mas não apenas esta influência deve ser levada em consideração mas também o organismo, o psiquismo e outros. De acordo com Neves (apud BOSSA, 2007, p. 21)

A psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos.

            Para que a psicopedagogia aconteça na escola, necessário se faz uma sala exclusiva para tal, e na escola  essa não é uma tarefa tão fácil, ainda existe uma desinformação grande acerca da necessidade desse profissional na escola.        O psicopedagogo dentre tantos outros feitos pode sugerir e até mesmo cooperar com a direção da escola nas elaborações de projetos pedagógicos.   E ainda ajudar professores, visto que estes muitas vezes não sabem o que fazer e dizem; “Não sei mais o que faço para esse menino (a) aprender”. O psicopedagogo nessa hora pode contribuir sugerindo novas técnicas, métodos, jogos, brincadeiras e outras atividades que venham ao encontro à necessidade e a dificuldade tanto do professor quanto do aluno. Também pode ao detectar outras anomalias e realizar encaminhamentos para o psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, psiquiatras infantis, etc.  

ALFABETIZAÇÃO: um olhar necessário para o processo de inserção do sujeito

           Falar de alfabetização pode parecer fácil, porem ao escolher sobre o que abordar dentro deste tema tão amplo e que traz inúmeros questionamentos que vai desde simples conceitos como “codificar” e “decodificar” a teoria de vários estudiosos do assunto como o que é “código” (Emília Ferreiro), “letramento” até o que se tem avançado nos últimos anos para sanar os problemas enfrentados por professores na sala de aula. Assim como este artigo trata de um estudo de caso que envolve a alfabetização far-se-á uma explanação sobre o fracasso na alfabetização.
              Os resultados de pesquisas e estudos divulgados por órgãos nesse sentido, são alarmantes cito aqui o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de acordo com os dados o Brasil esta aquém com relação aos outros países. Na avaliação realizada em 2001 (divulgada em 2003), desde 1995 o rendimento se encontra em queda mostrando uma pequena melhoria no rendimento (Qualidade da Educação: uma nova leitura do desempenho de estudantes da 4ª série do ensino fundamental – Brasília MEC/INEP, Abril 2003.
              Um número expressivo de estudantes não sabe ler e escrever ou não aprende a ler e escrever. Esse tem sido a grande questão que envolve professores que na ânsia de encontrar respostas e soluções para seus problemas se embrenham em pesquisas e estudos, sem sucesso.
              Muitos profissionais de várias áreas do conhecimento no final do século XIX início do século XX se propuseram em estudos e pesquisas, registrando suas observações e assim deixaram um legado de informações que tem norteado estudos e pesquisas nos últimos anos; abordagens, concepções, correntes, com suas fazes que embasem o trabalho dos psicopedagogos, entre eles cita-se: Piaget, defendia o desenvolvimento cognitivo; Vygosthky, a teoria da mediação por meio da zona proximal de desenvolvimento (real e potencial); Wallon, baseou seus estudos no interacionismo “onde homem e meio se modificam pela emoção” (Coutinho 1992).
              Ao longo da história da alfabetização a preocupação dos educadores e demais profissionais afins tem sido o rendimento ora positivo ora negativo. E este último leva muitos alunos a evadirem-se da escola e em outras situações serem excluído do processo sem deixar a escola.
           Assim sendo diante dessa problemática que envolve a escolarização, há uma necessidade de investigação sobre o nível de rendimento procurando identificar, causas e mapear os fatores escolares e/ou não escolares que efetivamente interferem nessa produtividade deixando o desempenho do alfabetizando comprometido.
              Nesse sentido discordamos de Rubinstein (2001), que diz: “na visão holística e sistêmica para compreender um sujeito cognoscente os problemas de aprendizagem não se relacionam a problemas ocorridos ao nível institucional: resistência as normas, má integração na sociedade o despreparo do professor, déficit mental , inibição” enfim para ele essa dificuldade é uma “interrupção” ou “perturbação” no desenvolvimento que ao ser somado o indivíduo volta ao normal. Pois, o sujeito esta inserindo num meio social, e parafraseando Wallon não se pode tratar a criança como uma ilha isolada, ele diz: “É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade ela constitui um conjunto indissociável e original feita de contraste e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais suscetível de desenvolvimento e de novidade “  (Wallon 2007,  p. 1998)
              Ao observarmos a teoria Walloniana, percebe-se que ela aponta para a base orgânica da afetividade na formação da pessoa. Não há como imaginarmos, um trabalho como o do alfabetizador ignorando as influências em que está inserido, toda a sua prática de ensinar e aprender, nem colocá-la como única e exclusiva da escola, pois este sujeito precisa ser inserido em prática /hábitos sociais de leitura e escrita e nos primeiros anos isso começa na escola e tem complemento em casa. Que deve ser um procedimento previamente planejado, pois diversos estudos têm comprovado que o hábito de o aluno fazer o dever de casa e a prática do educador de acompanhar e avaliar sua realização tem surtido um efeito favorável ao processo e ensino aprendizagem.
              No estudo de caso realizado para a elaboração deste artigo observou-se que o sujeito não conta com a ajuda de familiares, pois a avó que efetivamente cuida dela não é alfabetizada, nem o pai; que são as pessoas que estão mais próximas. Sabe-se que o papel dos familiares é de estimular basicamente a realização de atividades dando autonomia a ele e só auxiliar quando este não conseguir efetuar a realização das tarefas.  Mas, e quando esses familiares não estão neste patamar de entendimento, não sabem ensinar ou ajudar? O sujeito fica sem este aporte de ajuda em casa.  Isso é o que acontece no estudo de caso do sujeito, não tem ajuda em casa e nem na escola.
              Desde o primeiro contato notou-se que o sujeito não está inserido no processo ensino-aprendizagem, pois não está alfabetizado, apesar de estar regularmente matriculado, não faltar às aulas e realizar as atividades de copiar proposta pela professora, com muita dificuldade. A professora não realiza nenhuma atividade diferenciada para atender esse sujeito; embora ela dissesse que faz, mas na análise do material escolar não se viu nenhuma atividade elaborada para atenuar os problemas do sujeito.
              Segundo Emilia Ferreiro (palestra realizada pela fundação Victor Civita, 1996, vídeo.), “os brasileiros não evoluíram nos últimos anos nos métodos de alfabetização.” Concorda-se com ela quando se observa a precariedade do ensino brasileiro. O mundo moderno exige cada vez mais posturas delineadas com o sucesso onde o profissional inserido neste contexto competitivo se vê forçado a buscar caminhos muitas vezes não pensados. Para o educador os desafios enfrentados no dia-a-dia modificam os hábitos, os modos de trabalhar e de aprender e tudo isso deve estar relacionado à utilização da sua prática docente. Por isso necessário se faz, buscar uma evolução de métodos e ferramentas que possibilitam novos caminhos, onde não se vê tanto fracasso.
              São inúmeros os motivos que levam o homem a viver em busca de soluções e aperfeiçoamento, para isso ele estuda, investiga, avalia, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo para o exercício da cidadania plena. Portanto, assim deve ser a vida do profissional da educação; motivado a se aperfeiçoar, pesquisar para melhorar os resultados da sua prática docente.

MATERIAIS E MÉTODOS


              Criou-se a clínica experimental “Aprender e Vencer”, para a realização do estágio do curso de pós-graduação em Psicopedagogia; especificamente para o estudo de caso da menor V.L. de oito anos de idade, estudante na Escola Municipal da cidade de Pontal do Araguaia-MT, cursando o terceiro ano do Ensino Fundamental, apresentando segundo a professora e a avó, dificuldades de aprendizagem. Foram realizadas dez sessões de em média sessenta minutos cada uma.
              Aos dias Treze de agosto de dois mil e dez reuniram-se os graduandos e a avó para a realização da EFES (Entrevista Familiar Exploratória Situacional), segundo Weiss (1987), visa compreender a queixa nas dimensões familiares e escolares e entender as relações e as expectativas centradas na aprendizagem escolar, a atuação do psicopedagogo, aceitação e o engajamento do sujeito e seus pais; para assim realizar o enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico (Weiss, 2008).                                                           
   Aos dias treze de agosto de dois mil e dez realizou-se uma entrevista com a educadora V. em busca da avaliação diagnóstica procurando fazer um levantamento das hipóteses investigando as possíveis causas da queixa na visão da professora, bem como as perspectivas da professora quanto o sujeito.
   Aos dias dezoito de agosto de dois mil e dez, realizou-se com o sujeito V.L. de oito anos de idade cursando o terceiro ano do Ensino Fundamental a EOCA (Entrevista Operacional Centrada na Aprendizagem) visa “analisar o desenvolvimento e aprendizagem do sujeito, tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito, sendo sua pratica baseada na psicologia social de Pichón Rivière, da psicanálise e método clínico da Escola de Genebra”, segundo Bossa (2000, p.44). Durante a entrevista o sujeito responde as questões com objetividade. Essa entrevista durou sessenta minutos.
   A quarta sessão foi realizada nos dias vinte e três de Agosto de dois mil e dez. Foram
propostas duas atividades; a primeira V.L. deveria indicar a letra do primeiro nome das figuras indicadas (a atividade contém uma cena campestre onde aparecem vários animais e objetos). Ela deveria escrever a letra inicial dos animais que aparece na cena. A segunda atividade envolveu números, os quais o sujeito deveria organizá-los em ordem crescente e decrescente. Logo após as atividades pedagógicas iniciou-se uma conversa informal com o sujeito no intuito de saber um pouco mais de sua vida e perspectivas educacionais.
   Aos dias vinte e cinco de Agosto de dois mil e dez, aplicou-se o Teste de Apercepção Infantil (CAT), utiliza-se dez figuras de animais em situações psicossociais para contar uma história (BELLAK), e o Teste de Apercepção Temática (TAT), que consiste no trabalho de dezenove gravuras de cenas dramáticas fortes (figuras humanas), própria mais para adultos. (MURRAY). Com esses testes espera-se avaliar a percepção de V.L. com relação as gravuras apresentadas relatar as cenas ou criar uma história. Na mesma sessão foram aplicadas duas atividades pedagógicas: a primeira consiste na construção de três bolas de diferentes tamanhos com massinha, a segunda montar um quebra-cabeça do alfabeto.
   No dia trinta de agosto de dois mil e dez, aconteceu a sexta sessão aplicando a análise do material escolar que teve como intuito avaliar o sujeito em sua individualidade, o professor em sua metodologia e a família em seu comprometimento escolar e também foi aplicado o par educativo.
   No dia primeiro de Setembro de dois mil e dez, reuniu-se para realizar-se a sétima sessão, aplicando o instrumento diagnóstico família educativa e provas pedagógicas.    As atividades envolvem coordenação motora. A primeira atividade é para: colorir, recortar e montar um macaquinho em uma folha de papel sul fite. A segunda atividade desenvolvida nesse dia com a criança foi de matemática, o sujeito deveria relacionar quantidades aos números.  Fez a associação relacionando as quantidades dos desenhos com os respectivos números e escreveu corretamente com a ajuda da psicopedagoga. Outra atividade desenvolvida foi de desenho, era preciso ligar os pontos numerados de um a trinta e dois e descobrir o que foi formado. Em seguida realizamos a Família Educativa. Assim encerrou-se a sessão.
   Realizou-se a oitava sessão aos dois de Setembro de dois mil e dez com V.L. que chegou perguntando quais atividades ela faria naquele dia. E respondeu-se que seriam atividades que ajudaria ela desenvolver ainda mais sua coordenação motora. Como primeira atividade, propõe-se que cobrisse desenhos usando os lápis de cor. O primeiro desenho que ela cobriu era de uma centopeia e o segundo de um caramujo. Numa segunda atividade eram letras pontilhadas cursivas do alfabeto que estavam dispostos quatro vezes numa folha de papel sul fite.
   Aos três dias de setembro de 2010, realizou-se mais uma sessão. Apresentou-se várias atividades para que V.L. escolhesse. De inicio pediu que queria brincar com massinha. Foi proposto então que usasse a imaginação e criasse alguma coisa com a massinha. Nesse contexto a psicopedagoga pegou também na massa como forma de incentivo e fez-se um rosto de criança. A partir do trabalho realizado pela psicopedagoga V.L. criou seu próprio rosto com massinha. Porém, a criança não conseguiu fazer a trança para formar o cabelo e disse que o rosto que ela havia feito era feio. A psicopedagoga fez o cabelo para o rosto que a criança criou. Percebeu-se sua satisfação em ver o resultado de sua criação.
   Em seguida, propôs-se que fizesse vários outros animais como centopeia, formigas e outros. No decorrer dessas atividades, percebeu-se especificamente na centopeia que invés de ter as antenas, ela tinha um arco grosso na cabeça. Ao questioná-la sobre o porquê do arco e não as antenas. V.L. respondeu que a centopéia estava ouvindo música. E então se entendeu o que havia feito e parabenizou-se, pois foi bastante criativa. Outra atividade proposta e desenvolvida pela criança foi a de pintura.
              A psicopedagoga fez um desenho e pediu que V.L. reproduzisse o mesmo. No desenho havia; casa, crianças, árvores, borboletas, nuvens, sol e outros. Observou-se alguns avanços nos traços desenhados por V.L. as cores que prevaleceram no seu desenho foram; vermelho, amarelo e azul. E assim finalizou-se a sessão com duração de sessenta minutos.


ANÁLISE DOS DADOS
          


   A EFES, que é uma das entrevistas realizadas, se deu no primeiro momento com a presença da avó e a criança. A avó responsável legal pela menor que identificamos por (V.L.). Durante a entrevista a menor brincou todo o tempo, no mesmo ambiente. Escolheu livremente os brinquedos e as brincadeiras, demonstrando curiosidade por tudo que via sem perder de vista a avó e o que estava acontecendo. Enquanto era realizada a entrevista, a menor V.L. prestava atenção em tudo e às vezes ajudava a responder algumas perguntas, tais como: o nome completo do pai, idade, nomes dos irmãos, ou seja, o que a avó não sabia ela respondia.
   Portanto, pela EFES pode-se dizer que a avó dispõe de todo tempo para com o sujeito e luta para que a criança tenha sucesso na escola e na vida. Demonstrou interesse e uma expectativa grande diante de se ter uma resposta para suas indagações frente aos problemas da neta.
              Diante do que foi exposto pela educadora observou-se que são múltiplas as dificuldades relatadas que vão ao encontro com a queixa apresentada pela avó. A princípio ela não lê, escreve os números de 0 a 9 alguns invertidos, copia do quadro mas não escreve letras cursivas, ainda grafa com letras de fôrma e segundo a professora ela não desenha , o que mostra o problema de forma contraditório. Pois ela diz que V.L. é animada e ao mesmo tempo não quer fazer nada, depende do humor ou simplesmente não faz. Ao analisarmos os pormenores da entrevista percebemos uma falta de seqüência e adequação nas colocações, pois não tem como uma pessoa ser criativa ou mostrar habilidades sem que seja motivada para isto ou que saiba fazer o que lhe é proposto.
Observou-se que o sujeito é copista; a única coisa que consegue fazer bem e só, é copiar do livro e da lousa. Essas atividades que não são elaboradas de acordo com o nível de conhecimento que ela apresenta (copiar por copiar, brincar por brincar, matando tempo) sem apresentar um objetivo claro para sanar suas dificuldades. Portanto, fica evidente que a falta de atividades adequadas, a falta de regras para a realização de tarefas, com objetivos claros para solucionar os possíveis problemas de aprendizagem não contribuem para o desenvolvimento cognitivo do sujeito. Por esta razão, ela se encontra há três anos num nível de conhecimento como se estivesse iniciado o processo de alfabetização há alguns meses apenas. 
              O sujeito possui um histórico de vida bastante diferenciado no que diz respeito ao desenvolvimento normal de uma criança, está na escola, mas não está integrado no processo. Pelas atividades pedagógicas realizadas conclui-se que V.L. não conhece as letras do alfabeto, faz uma leitura das imagens, porém não faz associação da imagem com a letra. Já na atividade de matemática, conseguiu realizar com sucesso, apesar de inverter dois números, o  quatro e o seis. Levando a conclusão de que tem habilidades com os números, no entanto com as letras, não mostra nenhuma habilidade.
   E o que se pode dizer pela conversa informal é que ela sente muitas saudades do avô falecido, sente medo de ficar só, é insegura nos relacionamentos, pois ninguém para ela é de confiança. Ela relata que não gosta da vaca Mansinha, pois a vaca veio em cima dela. Ao fazer uma associação ao nome espera-se que a vaca seja mansa, mas isso não aconteceu.  
   Disse também que lá na fazenda tem um tal de lobisomem e que tinha medo dele. Talvez sejam esses alguns dos indicativos do sujeito não ter confiança nas pessoas, ter medo e ser insegura. Após a aplicação do TAT e CAT, observou-se que a percepção dela é boa, relata as cenas mostrando o que tem (homem, mulher), mas não se atém ao que estão fazendo, não contextualiza a temática. Não consegue desenvolver uma história em relação ao que vê. Ela se mostrou indiferente, sem emoção como se não entendesse o que vê. Àquelas figuras contendo cenas de morte, doenças, pessoas deformadas nada disso para ela teve algum significado.
              Já no que diz respeito do  material escolar percebeu-se que, V.L. é mais ou menos organizada, não partilha seus objetos com os colegas, não realiza suas atividades, pois em seu caderno não contém quase nada escrito. Nota-se que ela está à margem do processo ensino-aprendizagem, a professora deixa-a de lado ignorando suas dificuldades, pois seu material não apresenta nenhuma atividade elaborada ao seu nível de conhecimento; o que torna difícil sua vida dentro da sala de aula uma vez que ela não domina as atividades propostas para a turma.             
              Quanto ao par educativo “A interpretação de alguns aspectos gerais do desenho quanto à localização no papel; o desenho realizado em um dos cantos, do lado esquerdo, pode indicar pessoas fugindo do meio, indica fuga ou desajuste do indivíduo ao ambiente; do lado esquerdo da página indica inibição”. (DINAH, 2005, p. 39). Conclui-se pelo desenho que o sujeito realmente se mostra em desajuste ao ambiente. Dinah (2005, p. 44) “Pelo tamanho da figura humana diminuto possui autoestima baixa com problemas emocionais, sentimento de inferioridade”.
              Após a orientação da psicopedagoga, com dificuldades relacionou as quantidades com o número correspondente. No momento da atividade de ligar os pontos, mostrou-se cansada. Mesmo assim continuou a tarefa até finalizá-la. Para finalizar a sessão Passou a aplicação da Famila Quinética. Quando a Psicopedagoga lhe pediu para que desenhasse sua família ela disse que “não gostava de desenhar, muito menos meu pai”. Mas ao propor que se terminasse àquela tarefa nós faríamos coisa melhor então ela começou a desenhar de início foi pedido para ela fazer o pai, porém começou pelas amigas da escola, ela, em seguida fez todas as tias, a avó, os irmãos, madrinha, inclusive o avô que morreu e os primos. Não desenhou o pai nem a mãe.    
Diante de incentivos percebeu-se nessa sessão progressos nas atividades realizadas por V.L. apesar de ter realizado apenas cinqüenta por cento da atividade do alfabeto, notou-se que a atividade foi realizada com mais capricho em relação as anteriores e ainda mostrou-se mais atenta nos pequenos detalhes da atividade. Por outro lado, houve certa demora na realização das atividades, no entanto, deve ser levada em consideração sua motricidade que se encontra em desenvolvimento e acredita-se ser uma criança esperta e inteligente.
  Percebeu-se que V.L. tem apresentado mais disposição na realização das atividades, principalmente nas atividades escolhida por ela. Usou-se esta estratégia de deixá-la escolher a atividade para perceber se a mesma ao escolher começa e termina. Dessa forma, observou-se que por meio dos incentivos da psicopedagoga ela concluiu seus desenhos. Acredita-se que essa estratégia veio estimular a realização dos trabalhos, e o desenvolvimento motor da criança que demonstra ter bastante dificuldades nessa área.
   Portanto, verificou-se que o sujeito mesmo com suas dificuldades e limitações tem demonstrado avanços como: capricho e persistência na realização das atividades propostas. Mas o principal objetivo é que o sujeito desenvolva sua coordenação motora e consiga realizar dentro em breve a escrita cursivamente e a leitura.
              Ao longo das sessões, pode-se perceber que o sujeito não se adaptou aos métodos de ensino aplicados ao longo dos três anos que se encontra na escola e também quando esteve na creche, pois revelou não ter motricidade apresentando grande dificuldade: a escrita somente em letra bastão, não reconhece o seu significado, pois só consegue escrever quando lembrada que o g é o g do gato, não tem habilidade com letras cursivas, não consegue desenhar, não tem habilidade em recortar. Durante as sessões mostrou desinteresse acentuado pela escola, sempre mudava de assunto quando era questionada a respeito de suas atitudes e avanços na sala de aula e também sua avó relatou que todos os dias quando a deixava na escola ela não queria entrar e até hoje ela a deixa dentro da sala de aula.
No tocante a família percebeu-se que a avó é uma figura presente, faz tudo que está ao seu alcance para que a pequena tenha êxito escolar, embora seja semi-analfabeta não possui condições para ajudar nas tarefas escolares nem condições financeiras para buscar ajuda profissional adequada, conhece as dificuldades enfrentadas pela neta na escola. Com relação aos demais integrantes da família: o pai mesmo estando em casa é uma figura totalmente ausente, a criança não manifestou nenhuma admiração pelo mesmo, em nenhum momento falou sobre ele; já com a mãe manifestou carinho, ela a busca para  passar os fins de semana, o que espera ansiosa, pelos momentos de ir para casa da mãe, sente muito a sua falta e diz que todos gostam mais de seus irmãos do que dela.
              Quanto aos colegas, o sujeito apresentou no início dificuldade de relacionamento, era agressiva embora a relação com alguns de sua sala de aula é boa. Quanto à professora, mostrou indiferença não quis desenhá-la a princípio, depois resolveu desenhar quando foi incentivada a fazê-lo. 
Portanto a hipótese sobre a queixa apresentada pela escola e família quanto à dificuldade de leitura e escrita dela não foi confirmada. Melhor explicando, o sujeito não pode ser considerado com dificuldade de leitura e escrita, pois só tem dificuldade quem já aprendeu e sente algumas falhas. Na verdade o sujeito não foi alfabetizado e por isso não se enquadra em dificuldades, mas sim em não ter sido alfabetizado, necessitando com urgência esse resgate.
Pois o sujeito não sabe ler nem escrever, ou seja, ela não foi alfabetizada. Ela não reconhece as letras sem associá-las a uma gravura “trabalhada”, supõe-se; e essa gravura, por exemplo, o ”g” do gato não pode ser da ”garrafa”, “girafa”. Ela só consegue saber depois que se assemelha à figura que lhe é familiar. Também não junta as letras para formar sílabas, palavras. Quanto à escrita só grafa letras em bastão apresentando uma dificuldade de coordenação motora acentuada; por isso não foi possível realizar com facilidade as atividades de desenho propostas nas entrevistas.


 SUGESTÕES PARA TENTAR REVERTER ESSA SITUAÇÃO

 

         Quanto à professora sugere-se que desenvolva  um  relacionamento  de  confiança  com  o  sujeito valorizando as qualidades que apresentam, criando um vínculo de afetividade, pois, segundo Abraão Slavutzky, citado por Edity Rubinstein, “a transferência é uma historia de amor e essa relação transferêncial nada mais é que a afetividade; e é necessária para provocar reação no sujeito da aprendizagem. Também para Wallon (apud COUTINHO, 1992) que baseou seus estudos no interacionismo onde homem e meio se modificam pela emoção, segundo ele, “os processos de desenvolvimento e aprendizagem ocorrem no encontro dialético com o outro, sendo que a inteligência e afetividade se influenciam mutuamente”. Assim a sala de aula deve ser, também, um ambiente agradável com material concreto, de fácil manuseio e bem decorada com alfabetos, numerais, palavrinhas, nome dos alunos da série a que pertence. Com isso irá despertar o gosto e estimular o sujeito para as atividades propostas para sanar o problema de não alfabetização.
Quanto ao material para ser usado em aulas diferenciadas com a aluna, sugere-se que saia da rotina, pois ela disse que não gosta das tarefas porque: “é sempre as mesmas coisas e não tenho mãos de ferro”, mostrando desinteresse e cansaço. E o que se busca é um desejo ardente pelo gosto de novas descobertas; para isso sugerimos que use de novas metodologias e outras tecnologias e sair do convencional.
Levar materiais como embalagens vazias de produtos bem conhecidos, como caixa de leite, bolacha, chocolate, sabão em pó, toddy, creme dental, arroz etc.. A professora irá trabalhar com as palavras escritas nas embalagens, comentar sobre o produto, trabalhar com as letras que formam o nome do produto, aproveitando também para trabalhar com as famílias silábicas. Introduzindo novas palavras com os caracteres trabalhados e que V.L. já tenha conhecimento. Trabalhar com jogos que tenha como objetivo alfabetizar, formar palavras observando o nome dos desenhos, caça-palavras. Também trabalhe com letras do alfabeto orientando a aluna através delas. Poderá utilizar jogos que envolvam quantidades, usando dados  para a contagem de bolinhas e a soma das mesmas. Sugere-se o uso do computador, abrir sites de jogos pedagógicos, visando despertar o raciocínio lógico e a concentração, com encaixes, quebra-cabeças, formas geométricas e o gosto pela leitura através de histórias ilustradas. http://Tatianaalfabetizacao.blogspot.com,
http://www.mabilee.com/2009/07/atividades-de-alfabetizacao.html e Espaço educar. Deve-se propor leituras de livros Literários, com historinhas conhecidas e ilustradas com figuras de auto-relevo.   

           Quanto à avó sugere-se que demonstre interesse em suas atividades escolares, como verificar suas atividades diárias realizadas por ela na escola, fazer elogios, ajudar em seus deveres de casa. (Neste caso se a avó não for capaz, que busque ajuda especializada  junto à escola). Deve transformar sua casa em um ambiente alfabetizador, como adquirir o hábito de leitura com a participação de todos da família; escrever nomes dos objetos da casa identificando-os; sempre que estiver fazendo compras solicitar que a mesma leia o nome dos produtos. Contar histórias antes de dormir; Não colocá-la nas aulas de reforço com pessoas despreparadas, sem conhecimento, pois isso pode acarretar mais problemas de rejeição e conseqüentemente de aprendizagem.
                      Quanto ao pai sugere-se que o realize várias atividades diferenciadas (brincadeiras, passeios) despertando o interesse, a atenção da filha demonstrando participação em todas as suas atividades em de casa e escolares; atenuando assim a grande lacuna que há no relacionamento pai-filha; dedicar-lhe mais tempo possível à sua filha, em casa, diminuindo a carência afetiva; incentivá-la em todas as leituras, contos e historinhas conhecidas do seu dia-a-dia; fazer as leituras oralmente com ela e comentar sobre o assunto do livro, procurando despertar o interesse da filha.
                  Quanto ao sujeito V.L. sugere-se que realize as tarefas com dedicação e esforço; use a imaginação, descrevendo os personagens das historinhas ouvidas; faça uso de historinhas com imagens; relate fatos oralmente com começo, meio e fim; faça leitura de frases e textos ilustrando-os; reconte histórias lidas; analise a própria escrita;
É fundamental que a escola seja capaz de educar para a vida
faça sempre a leitura de palavras que tenha significado para ela, que a mesma utiliza no seu dia-a-dia.
               Quanto à Escola e aos colegas sugere-se que trate a aluna V.L., com cordialidade, fazendo uma boa recepção todos os dias na chegada e saída da escola, demonstrando afeto e o quanto ela é importante para todos na U.E; sempre que possível, envolva-a nas apresentações realizadas na U.E., como nas festividades, datas comemorativas, aumentando sua auto-estima e a valorização de si mesma. Proponham brincadeiras que estimule regras e limites de boa convivência em grupo, na hora do recreio; incentive os colegas a elogiá-la, quando fizer leitura na sala de aula, estimulando-a a perder o medo de ler em público, quando puder fazê-lo; trabalhe dinâmicas de grupos, visando socializar e interagir com os colegas de sala; promova festival de leitura com exposições de livros literários infantis despertando o interesse dela pela leitura; promova jogos educativos. Que a coordenação pedagógica da escola, acompanhe as atividades elaboradas pela professora no tocante ao acompanhamento do sujeito, visto que muitas coisas precisam ser cuidadas pela professora para que haja o resgate do sujeito na aprendizagem. Caso a escola não oferece a sala de recurso se torna importante que tenha um atendimento contra turno, não como reforço, mas sim com processo de (re) alfabetização, seja ele com atendimento individual ou coletivo. Caso não seja possível um processo de (re) alfabetização individual, ofereça esse processo colocando-o também em uma sala de alfabetização. Mas, é necessário tomar cuidado com a questão de não constranger a criança.
               Quanto à Secretaria da Educação do Município sugere-se que crie a sala de recursos para atendimento especializado e individualizado. Sendo necessário capacitar pessoal para esse atendimento.


CONSIDERAÇÕES


Acreditamos que a aluna V.L., por apresentar uma carência afetiva, precise inicialmente de atendimento individualizado para que a mesma seja (re) alfabetizada para desenvolver suas potencialidades, e aumentar sua auto-estima procurando sempre trabalhar com materiais concretos, ilustrativos que chame sua atenção, como jogos educativos, livros ilustrados em auto relevo, alfabeto móvel, quebra-cabeça do alfabeto, de palavras, entre outros. Em seguida trabalhar com pequenos grupos e depois fazer a introdução de trabalhos no coletivo para que ela desenvolva a autoconfiança.
O acompanhamento psicopedagógico será de grande ajuda para a aluna, pois possibilitará um trabalho individualizado, mediante suas dificuldades apresentadas, com ações diversificadas e planejadas exclusivamente para atender suas necessidades, resgatando o gosto pela aprendizagem.  Convém lembrar que a psicopedagoga não apresenta soluções prontas e acabadas, a curto,  médio ou longo prazo.  Na verdade, a psicopedagoga aponta caminhos para uma possível solução do problema. Não existe garantia de solução, apenas possibilidade de melhora e quiçá solução. Tudo dependerá do trabalho realizado por todos os envolvidos com o sujeito.                                                                                                                     
              No atual contexto da política educacional brasileira, há que refletir nas várias posições adotadas por profissionais que estão atuando desde as salas de aula até os técnicos das Secretarias Estaduais e Federais, pois é fato o fracasso em muitos casos e não poucos; Num momento que se fala tanto em inclusão, letramento, conceitos que parecem tão alienados da realidade, inacessíveis para alunos que deveriam gozar de todos os direitos que lhe são atribuídos e garantidos constitucionalmente.
             Assim, devem-se suscitar ao profissional, formas de comportamento que garanta uma conduta de quem conhece os problemas que enfrentam o ensino brasileiro e que queira resgatar uma forma nova de conduzir e solucionar dificuldades que estancam o fluir do aprender.           
             Outro ponto importante é o relacionamento vivido por alunos e professores. A aprendizagem está ligada à afetividade e segundo Vygosthky, (2004 p. 243) “nenhuma forma de comportamento é tão forte quanto aquela ligada a uma emoção.” E para deixarmos algum vestígio emocional no aluno é preciso nos preocupar e termos novas posturas e reações.
             Ao apontarmos a base orgânica da afetividade, a teoria Walloniana resgata o orgânico na formação da pessoa, ao mesmo tempo em que indica que o meio social vai gradativamente transformando esta afetividade, moldando-a e tornando suas manifestações cada vez mais sociais. E isto é muito pertinente, pois o momento é de inclusão e esta interação é fundamental para garantir que o aluno tenha condições de estar efetivamente ingressado no processo ensino-aprendizagem. Logo, se faz necessário, ressaltar a valorização do profissional da Educação sem à qual nunca se alcançará o preparo que se espera e uma resposta adequada no seu trabalho.



REFERÊNCIAS
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BOSSA, Nádia A., A Psicopedagogia No Brasil: Contribuições a partir da prática. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza; O Teste do Desenho Como Instrumento de Diagnóstico da Personalidade. 37ª Ed. Vozes, 2003.

BÉDARD, Nicole; Como Interpretar os Desenhos das Crianças. Ed. Original. São Paulo: Isis, 1998.

SEVERINO, Antônio Joaquim; Metodologia do Trabalho Científico. 22ª Ed. São Paulo: Cortez, 2008.

LÚRIA, A. R.; Desenvolvimento Cognitivo. 5ª Ed. Ícone, 2008.

WEISS, Maria Lúcia; Psicopedagogia Clínica. Artmed, 1994.

PAIN, Sara; Problemas de Aprendizagem. 1ª Ed., Artmed, 1985.

RUBINSTEIN, Edith; Utilização do Jogo e da Brincadeira em Psicopedagogia: Uma Abordagem Clínica. 1990.

LEMLE, Miriam; Guia Teórico do Alfabetizador. 16ª Ed., 2ª impressão. São Paulo: Ática, 2005.

HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA. Disponível em: <www.google.com.br – História da Psicopedagogia. Acesso em: 29. Set. 2010.

FERREIRO, Emília; Reflexões sobre alfabetização. Tradução de Horácio Gonzáles. 24ª Ed   atualizada. São Paulo. Cortez, 2001-Coleção questões da nossa época; v 14.






[1] Artigo produzido como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia, pela Faculdade Montes Belos, sob a orientação da Prof. Ms. Andrea Kochhann, no ano 2010.
[2]Matemática. Adma Soares de Souza Padilha. Professora. Fone(66)92140824 email:adma.padilha@hotmail.com
[3] Pedagoga.  Cidália Pereira de Souza. Agente de Saúde
[4] Bióloga. Delza Maria Rodrigues da Silva. Professora. E-mail:delzamariarod@gmail.com
[5] Pedagogo. Marcos Roberto Gomes. Professor. Fone (66)92489640
[6] Letras. Nadir Soares de Sousa Silva. Professora. Fone (66)92293996 E-mail:nsssnadi@hotmail.com
[7] Pedagoga. Palmira Roberta Félix. Professora. Fone (66)92115264b